O CÃO
O cão
Que faz ão!ão!ão!
É bom amigo como os que o são!
É bom amigo,bom companheiro,
É valente,fiel,verdadeiro,
Leal,serviçal,
E tem bom coração.
Que diga o seu dono se ele o tem ou não!
Quando vem de fora a gente,
E chega a casa,é o cão
Quem diz primeiro,todo prazenteiro,
Saltando e rindo,
Contente
E com os olhos a brilhar de amor:
_”Ora seja bem-vindo
O meu senhor!”
O cão
Que faz ão!ão!ão!
É bom amigo como os que o são!
Que diga o ceguinho se ele o é ou não!
Nunca viram passar pelo caminho
Um ceguinho
Levando pela mão
O seu cão?
Que seria do cego,coitadinho,
Sem o seu guia,sem o carinho
Daquela dedicação?
O cão
Que faz ão!ão!ão!
É bom amigo como os que o são!
O pastor que diga se ele o é ou não.
O pastor leva o rebanho,
E vai-se ouvindo
O som lindo
Dos chocalhos muito finos,
No ar tinindo,
Como pequeninos
Sinos...
O pastor leva o rebanho;
E quem guarda os cordeirinhos
E as mães,
Dos lobos maus e vorazes?
São os cães,guardas valentes,
Que aos lobos dizem assim:
Ó lobos maus e vorazes,
Sim,
Andem,toquem-lhes lá,se são capazes!...
E,de longe,os lobos miram
Os cordeirinhos contentes,
Mas não se atiram,
Com medo dos seus cães valentes
E dos seus dentes:
O cão
Que faz ão!ão!ão!
É bom amigo como os que o são!
Lopes Vieira
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sábado, dezembro 15, 2007
terça-feira, novembro 06, 2007
OS CÃES NA LITERATURA
POEMA DO CÃO AO ENTARDECER
Um cão no areal corria presto.
Presto corria o cão no areal deserto.
Era ao entardecer, e o cão corria presto
no areal deserto.
Corria em linha recta, presto,
presto,pela orla do mar.
pela orla do mar, em linha recta,
presto, o cão.
Era ao entardecer.
No areal as águas derramadas
nas angústias do mar
lambuzavam de espuma as patas automáticas
do cão que presto, presto, corria em linha recta
pela orla do mar.
Sem princípio nem fim, em linha recta,
pela orla hora espessa, peganhenta e húmida,
em que um resto de luz no espasmo da agonia
geme nas coisas e empasta-as como goma.
No espaço diluído, esfumado e cinzento,
corria presto o cão no areal deserto.
Corria em linha recta, presto,
presto,definindo uma forma movediça
que perfurava a névoa e prosseguia
pela orla do mar, em linha recta,
focinho levantado, olhos estáticos,
fixando o breve ponto onde se encontram
além de todo o longe
as rectas que se dizem paralelas.
Alternavam-se as patas na cadência,na cadência
ritmada do movimento presto,
deixando no areal as marcas do contacto.
Presto, presto.
Como se um desejo o chamasse, corria presto o cão
no areal deserto.
O ritmo sempre igual, a língua pendurada,
os olhos como brocas, furadores de distâncias.
Em seu último espasmo a luz enrodilhou
o cão, o mar, o céu, o próximo e o distante.
Era um suposto cão correndo presto, presto,
num suposto areal, realmente deserto,
por uma linha recta mais suposta
que o areal e o mar.
mas presto, presto, sempre presto, presto,
correndo o cão no areal deserto.
António Gedeão,Poemas póstumos,1984
Um cão no areal corria presto.
Presto corria o cão no areal deserto.
Era ao entardecer, e o cão corria presto
no areal deserto.
Corria em linha recta, presto,
presto,pela orla do mar.
pela orla do mar, em linha recta,
presto, o cão.
Era ao entardecer.
No areal as águas derramadas
nas angústias do mar
lambuzavam de espuma as patas automáticas
do cão que presto, presto, corria em linha recta
pela orla do mar.
Sem princípio nem fim, em linha recta,
pela orla hora espessa, peganhenta e húmida,
em que um resto de luz no espasmo da agonia
geme nas coisas e empasta-as como goma.
No espaço diluído, esfumado e cinzento,
corria presto o cão no areal deserto.
Corria em linha recta, presto,
presto,definindo uma forma movediça
que perfurava a névoa e prosseguia
pela orla do mar, em linha recta,
focinho levantado, olhos estáticos,
fixando o breve ponto onde se encontram
além de todo o longe
as rectas que se dizem paralelas.
Alternavam-se as patas na cadência,na cadência
ritmada do movimento presto,
deixando no areal as marcas do contacto.
Presto, presto.
Como se um desejo o chamasse, corria presto o cão
no areal deserto.
O ritmo sempre igual, a língua pendurada,
os olhos como brocas, furadores de distâncias.
Em seu último espasmo a luz enrodilhou
o cão, o mar, o céu, o próximo e o distante.
Era um suposto cão correndo presto, presto,
num suposto areal, realmente deserto,
por uma linha recta mais suposta
que o areal e o mar.
mas presto, presto, sempre presto, presto,
correndo o cão no areal deserto.
António Gedeão,Poemas póstumos,1984
OS CÃES NA LITERATURA
CÃO ATÓMICO
1.Este cão tem folhas nas orelhas,
Com quatro talos:
Mas o que este cão devia ter era calos,
E só tem olhos e ossos
E morrinha num dente!
Mas, meu Deus, este cão
Quase o diria meu irmão:
Parece gente!
2.Este cão é redondo. Está deitado,
Rosna com gengivas de uivo.
Dizem-me que foi lobo,
Mas perdeu a alcateia
Como os homens perderam a Razão,
Que hoje serve de osso ao cão
Escapou ao cogumelo nuclear.E por essa razão se foi deitar.
Poema de Vitorino Nemésio
1.Este cão tem folhas nas orelhas,
Com quatro talos:
Mas o que este cão devia ter era calos,
E só tem olhos e ossos
E morrinha num dente!
Mas, meu Deus, este cão
Quase o diria meu irmão:
Parece gente!
2.Este cão é redondo. Está deitado,
Rosna com gengivas de uivo.
Dizem-me que foi lobo,
Mas perdeu a alcateia
Como os homens perderam a Razão,
Que hoje serve de osso ao cão
Escapou ao cogumelo nuclear.E por essa razão se foi deitar.
Poema de Vitorino Nemésio
OS CÃES NA LITERATURA
CÃO
Cão passageiro, cão estrito,
cão rasteiro cor de luva amarela,
apara-lápis, fraldiqueiro,
cão liquefeito, cão estafado,
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão além, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal da poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
cão de olhos que afligem,
cão-problema...Sai depressa, ó cão, deste poema!
Alexandre O'Neill,Poesias Completas. 1951-1986Lisboa, INCM, 1990 (3ª ed.)
Cão passageiro, cão estrito,
cão rasteiro cor de luva amarela,
apara-lápis, fraldiqueiro,
cão liquefeito, cão estafado,
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão além, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal da poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
cão de olhos que afligem,
cão-problema...Sai depressa, ó cão, deste poema!
Alexandre O'Neill,Poesias Completas. 1951-1986Lisboa, INCM, 1990 (3ª ed.)
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